domingo, 4 de maio de 2008

Amargo

Levantou pela manhã, lavou o rosto, escovou os dentes, sentiu um gosto estranho ao enxaguar a boca. Quando saiu do banheiro a água já estava a ferver passou o café, forte como gostava. Sentou-se à mesa sem abrir nenhuma janela, como sempre fazia. Encheu a xícara com café e leite e ao tomar o primeiro gole sentiu um amargo tão grande que fez cuspir no chão. Cheirou o café da xícara e também o leite da caixa e não sentiu nada estranho, averiguo o café da garrafa e por medida de segurança jogou tudo fora. Não passou outro café porque tinha pressa, e como não tinha café também não comeu nada. O amargo ficou na boca. Não comeu nada durante toda a manhã. Voltou para casa ao meio dia com uma fome acumulada e viu o pão ainda sobre a mesa coberto por um pano, daria uma mordidinha enquanto esquentava o que sobrou do jantar da noite anterior, e ao morder o pão sentiu o gosto amargo que sentira de manhã ao tomar o café com leite. Cuspiu todo no banheiro. A comida já estava quente, e pos no prato muito rápido, o estômago reclamava. Levou o garfo a boca despejou as comida com deleite, mas ao tocar a língua tudo ficou amargo. Então se desesperou. Gritou um palavrão, amaldiçoou a comida e atirou o prato ao chão. Saiu. Foi até a lanchonete. Viu alguns conhecidos, mas nunca falava com ninguém. Então lhe ocorreu pedir o que alguém estava comendo. Reparou num bife muito grande, que saciava um senhor com roupas sujas, e de unhas sujas e compridas, mas que deixava transparecer o prazer de uma bela refeição por meio da gordura que escorria pela barba branca, grande e suja que lhe cobria o queixo. Não exitou. A fome não deixou a náusea se manifestar. Pediu logo um bife grande e exigiu rapidez, veio logo a carne bem passada e recendendo a cebola. Cortou impaciente um bom pedaço, para mastigar como se fosse um prisioneiro recém liberto da cárcere e ao morder a carne a saliva amarga lhe encheu a boca e saiu como um tiro de canhão. O dono do estabelecimento se assustou e ficou preocupado, logo se desculpou e traria logo outro bife, mas o homem recusou, o dono não quis receber, mas o homem deixou o dinheiro sobre o balcão. O homem sujo da mesa ao lado pediu a carne que sobrara, o dono disse que estava ruim, mas deu- lhe de bom grado. O cliente comeu alegremente o pedaço extra de carne, o qual achou mais saboroso que o pedaço que acabara de comer.
Amaro estava preocupado, decidiu não comer nada, passaria o dia somente tomando água, comprou logo um litro, abriu a garrafa no meio da rua, não importava que olhassem, mas o ditado se fez valer, foi com muita sede ao pote. Agora o desespero era real. O que faria? O que estava acontecendo? Tentaria qualquer coisa, daria qualquer coisa para comer algo saboroso naquele momento. Quem sabe os doces, foi direto ao pai dos doces, comprou um pote de mel, agora não houve jeito misturou ao mel algumas lágrimas que denunciavam desespero. Quando pos o mel na boca lembrou-se de uma vez na infância que sua mãe sem perceber fez uma galinha com fel. Ao comer o mel lembrou-se da galinha que havia muito tempo estava ausente da memória. Conseguiu em meio ao desespero fazer um raciocínio, mirabolante com convinha a situação, que sabe se comesse o fel? Não tinha nada a perder. A fome agora causava dor, já era noite quando terminou de preparar a galinha que comprara ainda viva, e preparou, mesmo sem experiência somente seguindo um receita amarelada. Tomou o cuidado de estourar o fel e torceu para que sua intuição estivesse certa. Se tudo estava fora do normal. Se até o mel estava amargo, que sabe o fel estivesse doce ou azedo ou até salgado, mas não suportava o amargo, nunca suportou. Afoitamente tirou com a mão um pedaço da galinha e sentiu o gosto amargo da galinha que comeu na infância.