domingo, 19 de julho de 2009

O MONGE

Ainda criança, havia sido internado naquele monastério. Não conhecia nem sua própria família. Era um pupilo da igreja e esta sempre enfatizava a virtude da gratidão. Talvez estivesse certa. Que futuro teria um órfão, ainda criança, sujeita a qualquer molde e as maldades do mundo. Sorte dele e de outros que encontraram a bondade e a piedade divina por meio da igreja. A igreja cria que qualquer jovem estaria melhor consigo do que com seus genitores. Porém só recolhia meninos, pois as meninas poderiam levar o demônio do desejo carnal para dentro dos altos muros que rodeavam o templo.
A disciplina era rígida. O relógio regia tudo, todas as tarefas. Mas basicamente o tempo era dividido em orar, estudar textos sagrado e trabalhar. A julgar pelo que falavam, todos tinham as mesmas opiniões sobre tudo, mas a verdade é que não se falava muito. Cria-se que a voz era para louvores e orações. As roupas eram iguais: enormes túnicas que cobriam tudo e essa era sua única finalidade. A comida não era farta e não havia manjares.
Quando saiu do mosteiro pela primeira vez ficou surpreso. Os monges deixavam sair apenas alguns poucos, para cumprir tarefas necessárias. Eram escolhidos os mais fortes. Os que seriam mais capazes de suportar as tentações do mundo externo. Desta vez o jovem monge foi o escolhido, ficou feliz. Tinha curiosidade de conhecer o mundo de fora, apesar do medo; os monges sempre falavam que o outro lado do muro era perigoso e que a humanidade era muito má e pecadora e por isso era necessário vigiar para não sucumbir aos demônios que afligem os homens. O jovem sabia do mundo, o que os livros lhe ensinavam. Sua maior curiosidade era a mulher. ”E da costela que o senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher” Nunca tinha visto uma de verdade. Será que elas realmente eram instrumentos demoníacos?
Uma saia balançou-se deixou. A mostra, um tornozelo, uma peça de metal presa no final da canela, cor de prata, balançava a cada passo, que dava aquele pé de pele branca e muito limpa. O jovem monge distraído, ou concentrado; sei lá, esbarrou numa pessoa e ela tinha dois volumes muito fartos e um pouquinho a mostra. No esbarrão as duas saliências roçaram o peito do rapaz, a mulher ao desculpar-se segurou seu braço. O rapaz orientado a tomar certos antídotos, buscou logo uma igreja, ajoelhou-se, mas um perfume o inebriou tanto, que parecia bêbado, olhava instintivamente para os lados, buscado a origem de tal olor e descobriu uma belíssima jovem que também rezava. O rapaz buscou outro canto da igreja, mas as mulheres estavam por toda parte, não só da igreja, mas da cidade: nas ruas, cafés, esquinas, estavam em todos os lugares, vestidas de variadas formas, uma mais bela que a outra e cada uma delas enfraquecia sua alma.
De volta ao mosteiro, os monges perceberam que estava diferente, era assim com todos que tinham a oportunidade sair para o mundo exterior, ou o mundo de verdade; onde vive o demônio. O jovem deitou-se a noite em sua cama, lembrou-se das mulheres que vira e inevitavelmente o demônio tomou seu corpo, nunca havia estado daquele jeito. Era bom. O ruim era a angústia de saber que era errado. O lençol amanheceu maculado não se sabe de que. Agora tudo que fazia era mecânico. Os muros, muitos altos, pareciam que tinham braços e bocas que lhe convidavam a transpô-los. Mas o medo do fogo que nunca se acaba era um argumento muito convincente.
Demorou, mas chegou o dia em que teve que sair novamente do mosteiro. De novo o contato com o mundo exterior. Foi tomado de angústia, alegria, tristeza, ansiedade e dúvidas. Foi com a alma pequena. Lá fora parecia que só havia mulheres e todas belas, pareciam estar nuas e cada caminhar parecia um chamamento. Não sabia se eram elas ou seu corpo que o impulsionavam ao desconhecido corpo de fêmea.
Choveu uma chuva de lavar até a alma e sua túnica encharcou-se. Como todos ajudavam monges, pois eram homens sem maldade; uma jovem viúva lhe recolheu até que a chuva passasse e lhe emprestou uma roupa de seu falecido marido. A viúva que morava sozinha deu graças a Deus por livrar-lhe da solidão por alguns momentos, pois isso raramente acontecia; somente algumas vezes quando ia à igreja a mulher conversava com alguém por um breve momento. A mulher também se molhou com a chuva e teve que por outra roupa. O rapaz na sala tomando um chá quente imaginava aquelas roupas molhadas descendo pelo corpo da viuvinha até chegarem ao chão, e aquela pele fria, úmida e macia. Benzeu-se o quanto pode e pediu perdão e forças para não sucumbir novamente a tais pensamentos. Não sabe se o perdão foi concedido, mas a força, essa seguramente não foi. Quando a viúva já com roupas secas sentou-se perto de dele, ela o achou um pouco estranho, encabulado talvez. O jovem mantinha a xícara sempre apoiada sobre as pernas que se mantinham juntas e ao se levantar procurava virar de costas o mais rápido possível. Queria que ela lhe mostrasse algo que não conhecia e que queria conhecer, mas paradoxalmente também queria sair dali, pois acreditava que o demônio estava se divertindo com aquela situação.
Finda a chuva agradecimentos feitos o rapaz partiu, mas não para o convento, não sabia o que faria, mas tinha vergonha de voltar para lá; vergonha de ter traído os monges, a igreja, a Deus, de ter sido fraco e sucumbido a uma paixão incontrolável. Ouviu muitas histórias de monges que se apaixonaram e abandonaram a fé. Mas com ele era diferente. Ele não se apaixonou pela viuvinha e nem por nenhuma outra mulher. Não podia viver com isso. Era cruel. Abandonar a vida seria um pecado tão maléfico quanto o que estava cometendo. O que fazer meu Deus. Novamente no convento, penitenciou-se, se confessou, se flagelou, chorou, mas a cama cada vez mais cheia de mácula denunciava o pecado. Num ato de desvario e desespero pensou em amputar o mal representado no corpo. Mas uma força vinda do desconhecido o fez pular o muro do convento e o levou a casa da viuvinha. Sua consciência chorou por um tempo, até se acostumar, mas seu corpo nunca lamentou nada.

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